Quando Dr. Ana Paula Ribeiro, coordenadora do Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo revelou que duas pessoas morreram em setembro de 2025 por intoxicação por metanol, a comunidade médica ficou em alerta. As mortes ocorreram uma na capital, na zona da Mooca/Aricanduva, e outra em São Bernardo do Campo, ambas confirmadas no sábado, 27 de setembro. O alerta federal foi emitido no dia 26 de setembro pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, através da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (Senad).
Contexto e histórico das intoxicações por metanol no Brasil
Desde 2018, o Brasil tem registrado picos esporádicos de intoxicação por metanol, sobretudo em cidades grandes onde o consumo de álcool ilegal aumenta nas festas de fim de ano. Em 2023, o Ministério da Saúde apontou 42 casos em todo o país, com 8 óbitos. Especialistas dizem que a prática de adulterar bebidas alcoólicas com metanol – mais barato e mais fácil de encontrar – persiste por falta de fiscalização em pequenos estabelecimentos.
De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o metanol pode causar danos irreversíveis ao sistema nervoso central mesmo em doses de 10 ml, o que equivale a menos de uma colher de chá. Os sintomas costumam surgir entre 12 e 24 horas após a ingestão, dificultando o diagnóstico precoce.
Detalhes dos casos de setembro de 2025 em São Paulo
O primeiro caso foi o de um homem de 54 anos, morador da região da Mooca/Aricanduva. Ele apresentou náuseas e visão turva em 9 de setembro, foi internado e faleceu em 15 de setembro, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. O segundo falecimento aconteceu em São Bernardo do Campo, onde a Secretaria de Saúde recebeu um paciente no Hospital de Urgência que entrou em choque metabólico; o óbito foi confirmado antes da liberação dos resultados laboratoriais definitivos.
Até o momento, o CVS contabiliza seis casos de intoxicação desde junho de 2025, dos quais dois resultaram em óbito. Dez pacientes ainda estão sob investigação, todos com suspeita de consumo de bebida de procedência duvidosa na capital. O número de nove ocorrências em apenas 25 dias foi classificado como "fora do padrão" pelo Ministério da Justiça.
"Estamos diante de um cenário que exige ação imediata", alertou Dr. Carlos Ventura, epidemiologista do Hospital das Clínicas da USP. "A rapidez com que esses casos se multiplicaram indica que há um ponto de distribuição que ainda não conseguimos identificar".
Reação das autoridades de saúde e do Ministério da Justiça
Em nota divulgada na manhã de 27 de setembro, o Centro de Vigilância Sanitária de São Paulo reforçou a necessidade de controle rígido sobre a origem das bebidas alcoólicas. "Bares, empresas e demais estabelecimentos redobrem a atenção quanto à procedência dos produtos oferecidos", recomendou a coordenadora Dr. Ana Paula Ribeiro.
O Ministério da Justiça, por meio da Senad, emissor do alerta, destacou que há risco de subnotificação, já que nem todos os casos chegam aos órgãos competentes. "Estamos intensificando a cooperação entre as polícias estaduais e federais para rastrear fornecedores ilícitos", disse Mariana Alves, diretora executiva da Senad.
A Prefeitura de São Bernardo do Campo informou que, por respeito à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), não divulgará detalhes adicionais sobre o paciente local. No entanto, garantiu que a equipe de vigilância epidemiológica está monitorando o fluxo de bebidas suspeitas na região.

Impacto na população e orientações para prevenção
Para o cidadão comum, a recomendação mais prática é comprar álcool somente de fabricantes legalizados, que exibam rótulo, lacre de segurança e selo fiscal. O CVS alerta ainda que, caso apareça qualquer sintoma após consumo de bebida de procedência desconhecida – como dor abdominal, vômitos ou visão embaçada – deve‑se procurar serviço de emergência imediatamente.
Em entrevista ao G1, o farmacêutico Luiz Eduardo Silva, dono de uma farmácia no bairro da Mooca, contou que nos últimos dois meses viu um aumento nas compras de antídotos como o etanol intravenoso: "A gente tem que estar preparado, mas o ideal ainda é evitar o consumo de álcool de procedência duvidosa".
Perspectivas e próximos passos
Especialistas apontam que a identificação do ponto de origem da contaminação pode levar semanas, já que os fornecedores costumam operar na informalidade. Enquanto isso, o CVS pretende ampliar a fiscalização em bares e pontos de venda informais nas áreas de maior risco, como a região da Mooca, Vila Mariana e o centro de São Bernardo.
O Ministério da Justiça anunciou que a Senad vai destinar recursos emergenciais para capacitação de equipes de inspeção nas capitais do Sudeste, visando reduzir o tempo de resposta a novos surtos. "Nossa meta é zero fatalidade por intoxicação de metanol nos próximos 12 meses", declarou a diretora Mariana Alves.
O caso também reacendeu o debate sobre a necessidade de políticas mais rígidas para o controle de solventes industriais. Projetos de lei que aumentariam a rastreabilidade de produtos químicos estão em tramitação no Congresso, e podem se tornar realidade ainda este ano.
Perguntas Frequentes
Quantas mortes por intoxicação por metanol foram confirmadas em São Paulo em setembro de 2025?
Foram confirmadas duas mortes: um homem de 54 anos na zona Leste da capital e um paciente atendido no Hospital de Urgência de São Bernardo do Campo.
Qual a origem provável das bebidas contaminadas?
Ainda não há confirmação oficial, mas as investigações apontam para comércio informal de álcool adulterado, onde o metanol é usado como barato substituto do etanol.
Quais sinais de alerta devo observar se suspeitar de intoxicação?
Os sintomas mais comuns incluem visão turva, dor abdominal, náuseas, vômitos, tontura e, em casos graves, convulsões ou perda de consciência. Procure pronto‑socorro imediatamente.
O que o Ministério da Justiça está fazendo para conter o problema?
A Senad emitiu um alerta nacional, está intensificando a cooperação entre polícias federais e estaduais e destinou recursos emergenciais para capacitação de fiscais nos estados mais afetados.
Como a população pode se proteger?
Compre álcool somente de fabricantes legalizados, verifique rótulo, lacre e selo fiscal, e evite bebidas de origem desconhecida. Em caso de dúvida, a melhor escolha é não consumir.