A cena é quase cinematográfica: sob a chuva fina de Copacabola, a equipe de produção do remake de Odete Roitman monta os últimos takes da famosa morte. O luxuoso Copacabana Palace, que serviu de palco para diversas novelas, virou agora o cenário onde o corpo da vilã será retirado, enquanto câmeras e refletores lutam contra o tempo e a umidade.
A produção volta ao clássico Vale Tudo
Quando a TV brasileira exibiu Vale Tudo entre 1988 e 1989, ninguém imaginava que o assassinato da personagem Odete Roitman se tornaria um fenômeno nacional. Na época, a trama girava em torno de poder, corrupção e ambição, mas foi o último episódio – onde três tiros silenciosos ceifaram a vida da empreendedora – que paralizou o país. Em 2024, os produtores decidiram revisitar esse marco, trazendo à tela moderna a mesma tensão que fez milhões de brasileiros ficarem colados ao televisor.
O remake segue a mesma estrutura de suspense, mas acrescenta camadas de complexidade para o público atual. Enquanto a equipe revisita o apartamento onde o crime ocorreu, o roteiro já inclui novas reviravoltas: o filho de Odete, dado como morto, reaparece; Ana Clara tenta impedir outro desastre; e Heleninha descobre a verdade completa por trás da conspiração.
O diretor Denis Carvalho, que comandou a versão original, garantiu que a essência da trama permanece intacta. “Nós queremos que quem assistiu à novela nos anos 80 reconheça o mesmo calafrio, mas que também ofereça motivos para que a nova geração se surpreenda”, comentou Carvalho em entrevista ao O Globo.
Por que a morte de Odete Roitman marcou a TV brasileira
Na trama original, o assassinato foi revelado apenas 13 dias depois do início das suspeitas, gerando um verdadeiro frenesi. A competição promovida pela Nestlé para adivinhar o assassino, o suspenso “marco da noite de 6 de janeiro de 1989”, e o choque quando a culpada foi revelada como Leila – e não o marido ou outro rival – transformaram a novela em parte da cultura popular.
O motivo do crime – ciúme e identidade equivocada – ainda ressoa. Leila, ao entrar no apartamento, jurava encontrar a amante de Marco Aurélio, mas acabou disparando contra Odete, confundindo as duas. Esse erro trágico trouxe à tona discussões sobre poder feminino, rivalidade entre mulheres e a fragilidade das aparências.
Hoje, o remake não só revisita esses temas, mas também os aprofunda. A trama introduz, por exemplo, a descoberta de que o filho de Odete, acreditado morto após a morte da mãe, está vivo e busca vingança. Essa linha acrescenta um toque de drama familiar que se entrelaça ao drama corporativo.
- Filho de Odete vivo – revela segredos de um testamento oculto;
- Ana Clara entra em cena tentando impedir um novo homicídio;
- Heleninha desvenda a verdadeira rede de mentiras que alimentou o crime;
- Leila ainda luta com a culpa, permitindo novas camadas de redenção.
O público tem dividido opiniões sobre a forma como a nova versão encerra a história. Alguns defendem que a morte de Odete deveria permanecer intacta, como um símbolo de justiça poética; outros acreditam que o personagem merece uma redenção ou, ao menos, uma despedida mais elaborada.
Vale lembrar também o legado da atriz que deu vida a Odete Roitman: Beatriz Segall. Nascida em 1926, a artista brilhou por mais de sete décadas, mas foi a vilã de Vale Tudo que a eternizou na memória coletiva. Segall faleceu em setembro de 2018, aos 92 anos, deixando um vazio no teatro e na TV brasileira. Ela chegou a evitar comentar seu papel após o fim da novela, por temer ser reduzida ao estereótipo da mulher vilã.
Na nova gravação, o elenco ainda sente o peso dessa herança. Beatriz Segall, embora já não esteja entre nós, influencia o modo como os atores encaram a personagem: com respeito, mas também com a vontade de criar algo que vá além da simples maldade.
A produção já atraiu olhares de fãs veteranos e curiosos de primeira viagem. Entre os bastidores, tem-se ouvido rumores de que o diretor planeja uma cena pós-crédito, onde uma sombra ao longe poderia sugerir a volta de Odete de forma metafórica, alimentando teorias de que a lenda nunca morre.
Com as filmagens avançando, o Brasil aguarda ansioso a estreia da nova temporada, que promete combinar nostalgia e inovação, trazendo à tona perguntas que ainda não foram respondidas em 2024. Enquanto isso, as luzes do Copacabana Palace continuam a brilhar, marcando mais um capítulo na história da TV nacional.